quinta-feira, 18 de abril de 2013

A aldeia global e a insensibilidade


O homem moderno tem visto tantos desastres que lhe parece comum uma bomba explodir na sala de jantar. Nada mais parece causar espanto. Tudo faz parte de um círculo vicioso que se sucede ininterruptamente.

Inaldo Barreto

Antigamente, quando se falava em “aldeia global”, se imaginava corretamente o que é até hoje: todo o mundo debaixo de uma única lona, habitando um lugar comum. Um grande tabernáculo montado no deserto.

Significava também que toda dor era comum. Se antes da “aldeia global” as pessoas não sentiam a dor alheia de uma forma mais real, agora com a chegada da modernidade, podem sentir como se fosse irreal, etérea, virtual, como possibilidade, mas nunca como realidade. Com ela a dor se tornou presente a cada dia pelos jornais, revistas, televisão e internet. A modernidade “suprimiu” a dor.

As pessoas quando liam uma notícia ficavam abismadas com a crueldade. As noticias da segunda guerra chegavam via rádio e também pelo jornal. Lia-se com certa “reverência” pelos mortos, falava-se baixo e com pesar. Era o tempo onde pouco se sabia do ocorrido no Estado vizinho. Notícias chegavam depois de passado muitos dias, e a tristeza tomava conta das pessoas. Só de vez em quando. Mas pelo menos tomava e tornava o homem parte da humanidade.

O termo nasce no começo do século XIX com o canadense Herbert Marshal Mcluhan. Observando a tecnologia do começo de século, ele pode perceber que tudo estava se unindo debaixo de um novo teto: o tecnológico. Hoje temos o mais avançado sistema de comunicação que jamais existiu no mundo e todos sabem do ocorrido em tempo real. Uma explosão nos chega até pelo ruído que provoca no espaço.

Hoje o mundo é global em tempo real. Realmente uma bola no campo das ideias que se espalham por todo espaço. As ideias são tantas que os objetos de comunicação mudam a cada dia. Sempre existe no mercado um novo modelo, uma nova cor, um novo aparelho de se ver, ouvir e saber de tudo o que se passa em todos os lugares, e quase ao mesmo tempo.

Quando o homem lia o jornal no passado recente, tinha uma tênue impressão das coisas e imaginava as imagens do acontecimento. Com as fotos nas páginas dos jornais, a mente percebia e retinha com mais impressão. Hoje é o mundo maravilhoso pelo poder da comunicação e triste pela incapacidade que o homem desenvolveu de não se entristecer nem se indignar com a violência seja ela qual for. O homem moderno tem visto tanto desastre que lhe parece comum uma bomba explodir na sala de jantar. Nada mais parece causar espanto. Tudo faz parte de um círculo vicioso que se sucede ininterruptamente.

Não digo daqueles que estão ali, presente na hora do acontecido, da explosão da bomba. Em Boston, uma bomba explodiu e um garoto de oito anos de idade está entre as vítimas. Os primeiros a chorarem o acontecido são os pais e a irmã que saem feridos. Os vizinhos vêm em seguida na ordem da dor compartilhada. Depois todos os outros sentem um pouco, mas não sentem como os que estão mais próximos. A cidade de Boston ficou pasma diante da possibilidade de explosões aleatórias que tiram a paz.

A cibernética aproximou todos aos eventos espalhados pelo mundo. Tudo parece governado pelo poder da mídia. Cibernética vem do francês, cybernétique, derivado do grego, kybernênike: a arte de governar os homens. Fácil deduzir que estamos sendo governado pelas máquinas. Por isso, cada vez mais os homens estão se tornando insensíveis. Lê-se sobre uma explosão criminosa, mas não se sente como se sentia no século passado. A dor hoje é sistematicamente combatida pelo próprio meio de comunicação. A insensibilidade é um ópio que se espalha pela net como um entorpecente poderoso que tira a condição mínima do ser humano: a sensibilidade. 

Não é mais a dor que sentimos pela dor alheia, não é mais comoção, mas admiração. As fotos são postadas como se fosse algo belo, para ser apreciado. Ou então sem se prestar a atenção no ocorrido, como se fosse parte normal do cotidiano e não um coisa para ser exprobrada com firmeza e profunda emoção.

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