quinta-feira, 18 de abril de 2013

De geração para geração

Adquirir sabedoria envolve um processo que se dá em três partes: obtenção da informação (conhecimento), exercício do intelecto (inteligência para processar o conhecimento obtido) e a sabedoria propriamente dita que consiste em aplicar o conteúdo obtido, de forma prática, em seu cotidiano.

Matheus Viana

Não podemos extrair do tema “educação” o preceito “de geração para geração”. Em todo o Antigo Testamento, Deus se mostra zeloso no tocante ao ensinar à geração posterior Sua lei para que se tornasse “Estatuto perpétuo”. Não é em vão que o sábio Salomão elucida: “Ensina a criança o caminho em que deve andar, para que quando for velho não se desvie dele” (Provérbios 22:6). E Esdras declara: “Guardo no meu coração a Tua Lei para não pecar contra Ti” (Salmos 119:11).

Além disso, teóricos da educação como Jean Piaget e Lev Vygotsky, entre outros, preconizam que o papel dos pais é crucial no desenvolvimento moral e acadêmico da criança. Mas uma verdade deve ser constatada e observada: os papeis dos pais e dos professores neste processo ainda não são plenamente definidos, por isso se confundem, o que compromete a tão necessária sinergia entre eles.

Como professor, tenho visto um grande número de pais que transferem suas responsabilidades aos professores e cobram dos mesmos o que eles, pais, devem fazer em prol da educação de seus filhos. Pior, muitos destes pais criticam e prejudicam o trabalho desenvolvido na escola em prol de seus filhos.

A criança mais extraordinária que passou pela Terra, Jesus, conforme a narrativa de Lucas, cresceu em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens (Evangelho segundo Lucas 2:52). É papel dos pais e dos professores fazer com que as crianças e adolescentes aos quais temos acesso experimentem este desenvolvimento.

No entanto, adquirir sabedoria envolve um processo que se dá em três partes: obtenção da informação (conhecimento), exercício do intelecto (inteligência para processar o conhecimento obtido) e a sabedoria propriamente dita que consiste em aplicar o conteúdo obtido, de forma prática, em seu cotidiano. Há um amplo arcabouço filosófico, histórico e psicológico que pode – e deve – ser discutido e aplicado. Mas não é, pelo menos por enquanto, a nossa proposta. É preciso, antes de tudo, diagnosticar os males para solucioná-los da maneira mais otimizada possível.

É justamente na obtenção da informação (conhecimento) que temos o que chamamos de “gargalo”. Ou seja, uma falha no processo que compromete seu todo. Devido ao “boom” tecnológico, crianças e adolescentes são acometidas por um contexto em que a informação é excessiva e rápida, e que não ignora o elemento “futilidade”. Por isso, sua obtenção não exige o pensamento, apenas o saber manusear os diferentes e atrativos meios de comunicação como celulares, tablets, notebooks, entre outras parafernálias. O que, com o passar do tempo, torna-se algo mecânico, vicioso, puramente “taylorista”. A consequente alienação, infelizmente, é inevitável...

É incoerente negar os benefícios decorrentes do avanço tecnológico. Mas ocultar seus malefícios é tanto quanto. O fato de que temos nos deparado com crianças alienadas e com dificuldade de pensar e processar o conteúdo adquirido é, apesar de triste, real. E, por que não dizer, preocupante? A origem de tal problema é justamente na obtenção da informação. Platão fazia a distinção entre mundo sensitivo (uso dos sentidos) e mundo inteligível (uso da razão, intelecto). Por isso, dizia que para obter o conhecimento (verdade) de forma satisfatória, o uso dos sentidos não é suficiente. A experiência com o mundo e com o conhecimento através dos sentidos (que mais tarde vai receber o nome de empirismo) deve passar pelo crivo e regência da razão. É justamente este o ponto da defasagem: estamos diante de uma geração com extrema dificuldade de pensar.

Esta interatividade é capaz de determinar a identidade do usuário. Certa vez perguntei para um aluno como seria sua vida sem um aparelho celular. Ele respondeu sem pestanejar: “Simplesmente não existo”. Na adolescência – que a cada dia que passa torna-se mais precoce – o indivíduo tem extrema necessidade de sentir-se aceito pelo grupo social onde convive. Por isso, quer moldar sua personalidade (identidade) de modo que seja aceito. Aqui reside um grande conflito. Sua personalidade, por conta desta necessidade de aceitação, não será determinada somente pelos seus desejos interiores, mas pela opinião de seu grupo social. E esta opinião é, em grande parte, determinada pela mídia de forma geral.

É neste momento que os pais encontram dificuldades em fazer com que os filhos absorvam os princípios por eles emitidos e ensinados através de exemplos decorrentes da educação “de geração para geração”. Alguns, no entanto, não os transmitem por não terem recebido na infância ou por pura leniência. Deixam os corações de seus filhos vazios, suscetíveis a todo tipo de informação e conceitos que a mídia dissemina à exaustão. Moldados por estes conceitos, os filhos tornam-se problemáticos. Com isso, a tendência dos pais, ao invés de reconhecerem suas ausências, é de colocarem toda a culpa na escola.

Sem invadir o papel dos pais, os professores devem deixar de atuar apenas no nível acadêmico e permear o social, o moral/comportamental e, principalmente, o espiritual a fim de que a criança e o adolescente encontrem sua verdadeira identidade. A psicologia afirma que todo ser humano tem necessidade de ter um referencial. Verdade inquestionável. Tal necessidade é reflexo de que fomos formados por um referencial, um modelo. Como sabemos, este modelo é Jesus, a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15).


O pastor e sociólogo Ariovaldo Ramos afirma: “Jesus é o que Deus é e o que todo ser humano deve ser”. O apóstolo Paulo expressou o desejo de Deus de que vivamos à imagem e semelhança de Jesus (Romanos 8:29, Efésios 4:13). Portanto, é missão dos pais e professores, cada um cumprindo seu devido papel, proporcionar este conhecimento à criança e ao adolescente. Na esteira do conselho de Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo!”, eles conhecerão, assim como nós, a verdadeira identidade quando conhecerem quem Jesus, o Deus encarnado, o Primogênito, é.

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