Matheus Viana
Na construção da teoria do construtivismo, Jean Piaget preconiza que,
para uma criança até os nove meses de vida, algo existe apenas se está em seu
campo visual. Ou seja, sua mãe, por exemplo, no momento em que sai deste campo,
deixa de existir.
A semelhança de tal constatação com o ateísmo – bem como com todos os
desdobramentos do reducionismo – não é mera coincidência. Algo existe somente
se puder ser comprovado pela "visão" do método científico e, desta forma, ser classificado
como cognoscível segundo a nomenclatura kantiana.
Analisemos esta premissa do ponto de vista científico. Algo que sai do
campo visual de uma criança de até nove meses, de fato, deixa de existir?
Devemos afirmar, empiricamente, que algo não existe por estar além do que os
olhos humanos podem ver? Uma criança de até nove meses diria que sim. Ou seja,
a afirmação científica é tão infantil quanto.
É interessante a impossibilidade de dissociar o comportamento humano
natural do sobrenatural. Conforme elucida Chesterton em seu livro O
Homem Eterno, as evidências arqueológicas dos desenhos encontrados em
cavernas durante escavações possuem várias interpretações. Uma delas é que os
seres chamados de pré-históricos desenhavam, como forma de registro, suas
caças.
Do ponto de vista antropológico, os desenhos enigmáticos das cavernas
feitas pelos pré-históricos representavam suas relações com a natureza. Mas
esta necessidade de registrar o objeto da caça é, no mínimo, intrigante. Um
animal não teria – como não tem – a capacidade de desenhar – segundo a arte
encontrada nos achados arqueológicos – outro animal. Daí a suposição de que
estes seres eram primatas que foram se desenvolvendo até tornarem-se homo
sapiens perde totalmente a sua força. Mas, por que os registros? Por
que os desenhos?
Na tentativa de responderem tais questões, alguns historiadores e
cientistas afirmam que estes registros pertenciam a uma espécie de ritual onde
se desenhava o animal ou o ser sacrificado. Quando se estuda as mais antigas
civilizações ainda existentes, constata-se que todas elas têm seus cultos e
rituais. O que atesta que a necessidade de buscar o transcendental é inata do
ser humano.
A torre de Babel (Gênesis 11) foi projetada com a finalidade de, além de
fazer os nomes dos artífices eternizados, tocar os céus. Em outras palavras,
alcançar o transcendental. O intuito que os levou a construí-la ainda persiste
no coração humano: fazer nomes conhecidos e alcançar o transcendente.
Conforme afirmei em outra oportunidade (leia o texto: Perscrutando o
imperscrutável), o próprio ateísmo é produto desta busca. O fato de
os ateus não conseguirem alcançar o transcendental apenas pela via da razão não
pode, para eles, ser considerado como fracasso. Por isso, a saída pela tangente
é dizer que o metafísico não existe. É muito mais fácil dizer que o inimigo não
existe do que confessar a derrota diante dele.
Tão interessante
quanto é o fato destas civilizações antigas descreverem suas divindades com
características humanas. A mitologia grega é um exemplo marcante. O hinduísmo,
por exemplo, além de descrever seus deuses com traços humanos, mescla-os com
traços animais. Tais fatos são tentativas de reduzir o sobrenatural ao nível
natural a fim de compreendê-lo. O pensamento dos homens das cavernas ressurge.
Aliás, nunca deixou de existir. Ele é apenas o reverberar de uma necessidade
que se originou na ruptura da criatura chamada Adão para com O Criador.
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