sábado, 22 de junho de 2013

Comunidade x comunismo

A igualdade social, no contexto de comunidade é uma iniciativa das pessoas. No comunismo, ainda que seja por meio de uma vanguarda popular, é oriunda do Estado.

Matheus Viana


Há muitos cristãos, alguns deles na política, que tentam associar o cristianismo exercido pelos membros da Igreja Primitiva, também chamada de Comunidade Cristã, com os princípios do marxismo (em todas as suas vertentes). Por isso afirmam que a Bíblia providencia embasamentos para a prática do comunismo. No entanto, analisemos os argumentos utilizados e, consequentemente, a boçalidade deste idealismo desvirtuado.

    
Lucas, um dos seguidores de Jesus, diz no livro de Atos: “Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade”. (Atos 2:44-45). Nota-se aqui a diferença abismal entre comunidade e comunismo, também chamado de comunossocialismo. Na comunidade, as pessoas, desfrutando de uma liberdade econômica, usam de seus próprios bens para beneficiar o próximo. Portanto, não vemos em tal conduta nenhuma interferência do Estado. O ideal de igualdade social, no contexto de comunidade é uma iniciativa das pessoas. No comunismo (principalmente a configuração que Lênin e Stalin fizeram do marxismo), ainda que seja por meio de uma vanguarda popular, é oriunda do Estado. Ou seja, ele tem pleno poder sobre todos os recursos e distribui-os, como bem lhe aprouver, à população.

      
Os fiéis vendiam seus bens e depositavam os ganhos resultantes aos pés dos apóstolos (Atos 4:32-35). Contudo, o destino de tais recursos não era o enriquecimento institucional, como acontecia na igreja da idade média, mas o socorro de órfãos e viúvas (Atos 6:1-3). E, além disso, a Igreja Primitiva não possuía um caráter estadista. Os donativos eram feitos pela livre e espontânea vontade dos fiéis, e não oriundos de medidas políticas e dogmáticas de uma instituição.

      
O apóstolo Paulo, um dos ícones da Igreja, defendia o lema “o trabalhador é digno de seu salário”. (I Timóteo 5:18), difundido por Jesus (Evangelho segundo Lucas 10:7). Por isso, não podemos confundir altruísmo com assistencialismo. O altruísmo latente na comunidade cristã visava o desenvolvimento do necessitado. Já o assistencialismo comunossocialista visa perpetrar a letargia do cidadão para com o Estado, não lhe oferecendo perspectivas de crescimento social e econômico. Ou seja, que todos sejam igualmente supridos e consequentemente dependentes do que Thomas Hobbes, o criador da teoria do Estado absoluto (ou absolutismo) chamou, pertinentemente, de Leviathan.

     
Paulo defendia o lema de que, embora exercendo o cargo eclesiástico de apóstolo, não fosse “dispendioso ao corpo de Cristo” (II Coríntios 12:16). Por isso, ao mesmo tempo em que exercia com competência seu comissionamento, trabalhava no ofício de fabricante de tendas (Atos 18:3). O próprio Jesus, em uma de suas muitas abordagens sobre suprimentos materiais, disse: “Buscai primeiramente o Reino dos céus e sua justiça, e todas as outras coisas lhe serão acrescentadas”. (Evangelho segundo Mateus 6:33). O cristianismo prega a justiça social desde que baseada na liberdade de que o ser humano prospere (do ponto de vista bíblico) em todas as áreas de sua vida. E não promovendo uma sociedade forçadamente restrita a qualquer tipo de expansão.

      
Também não prega a chamada teologia da prosperidade, fator motriz do consumismo desenfreado que alimenta um capitalismo desumano. Mas oferece subsídios para que o ser humano renove sua mente a fim de experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus: buscar o Seu Reino que consiste em paz, justiça e alegria (Romanos 14:17) e receber da provisão que Ele, através da comunidade de Seus filhos, tem para nós.
     
Jesus ensinou que não é possível servir a dois senhores (Evangelho segundo Mateus 6:24). A entidade confrontada é Mamon, o deus das riquezas. Por isso, podemos afirmar que toda a prosperidade de Deus visa suprir as nossas necessidades a fim de que tenhamos condições de sermos agentes de transformação social. Ou seja, estarmos inseridos neste salutar contexto de comunidade sem, contudo, sermos subjugados pelo Estado comunista, responsável pela morte de milhões de cristãos durante o império soviético e na China de Mao-Tse Tung.

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