Matheus
Viana
Assistindo
ao programa Painel, exibido pelo
canal GloboNews no dia 08/06/13,
senti a necessidade de refletir sobre o conceito de Estado laico. O tema discutido foi a onda de protestos na Turquia
em virtude da aprovação de algumas leis classificadas pelos manifestantes como sendo
de caráter religioso.
Eleito
democraticamente e contando com a aprovação da maioria da população, o
primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que
professa a fé islâmica, na opinião dos manifestantes quer islamizar o Estado
turco. Tal hipótese é interpretada por alguns especialistas como fator que
denigre a imagem da Turquia, que é considerada um farol da democracia para o
oriente médio, como também uma ameaça à própria democracia interna. Será que a
aprovação de uma lei que restringe o uso de bebidas alcoólicas no período das
22:00 às 06:00 é base para um quadro tão catastrófico como este?
É
neste ponto que se torna pertinente uma breve reflexão sobre o que é ser laico.
A tendência atual é definir como laico o Estado onde a religião não exerce
nenhum tipo de poder ou influência. Isso é usado como mero subterfúgio para que
a religião - e tudo o que pode ser associado a ela - seja plenamente extinta.
Tal ideal é baseado na máxima de Marx: “a religião é o ópio do povo”.
Não
foi em vão que houve, recentemente, tentativas no Brasil de tirar Bíblias e adereços
religiosos, principalmente os associados ao Cristianismo, das repartições
públicas. Além de que qualquer Projeto de Lei que seja visto como possuindo
algum tipo de “moralismo cristão” é rebatido pelos opositores com a sentença:
“O Estado é laico”. Sim, é verdade. Mas em um Estado laico, ainda que a
religião não ocupe o ofício de Estado, ela, através de seus praticantes,
tem a liberdade de exercer a cidadania que lhe é devida.
Sou
totalmente contrário à truculência oriunda de um Estado religioso. É verdade
que a Igreja, enquanto exercia o papel de Estado, promoveu o obscurantismo, as cruzadas
e mandou muita gente boa para queimar na fogueira da inquisição. É verdade
também que os Estados islâmicos são tirânicos. Mas esses são exemplos de absolutismo
e fundamentalismo religioso. Seu oposto extremo, no entanto, é a tentativa de
se extinguir a religião de uma vez por todas.
Podemos
detectar, neste contexto, a evidente tentativa de se estabelecer um Estado onde a religião,
principalmente a cristã, seja completamente extinta. O que a tem sustentado, na
contramão do sistema, é a sã consciência de alguns membros participantes da
política que conseguem enxergar o benefício que muitas igrejas – há as que promovem
malefícios – trazem à sociedade.
Relembremos
alguns fatos da história. O que dizer, por exemplo, do parlamentar cristão Willian Wilberforce que conseguiu, através de sua atuação na política, abolir a
escravatura na Inglaterra? Do presidente americano Abraham Lincoln que pôs fim
à Guerra Civil e na escravidão dos negros pelos brancos. Sim,
devemos lembrar que eram os puritanos sulistas os favoráveis à permanência da
escravidão dos negros, pautados pela teologia da predestinação que preconizava que
os negros foram predestinados por Deus para serem escravos. Aberrações religiosas ainda existem. Mas o fato de que um cristão (há rumores
de que ele tenha sido maçon), usando um Estado laico, acabou com o morticínio
da Guerra Civil deve ser levado em consideração.
Os
que dizem que querem extinguir a religião, e tudo o que é relacionado a ela,
para acabar com a “tirania moralista e religiosa” querem, no fundo, implantar
um regime de “laicismo” como o que ocorreu durante a vigência do império
soviético e também na China de Mao-Tse Tung, onde milhões de cristãos foram
perseguidos e mortos. Ou seja, o laicismo é uma tirania, pois cerceia a
liberdade religiosa.
A
religião é inata do homem. O ateísmo é uma religião. A devoção ao ideal
revolucionário é uma religião. A busca pelo laicismo é uma religião. Ou seja,
não há, em nenhum lugar no mundo, um “Estado laico” segundo a definição radical que
alguns aplicam. Considerados a maior democracia do mundo, os Estados Unidos são
de fundação e formação protestantes. E o cristianismo, protestante e católico,
ainda exerce forte influência na política do país. No Brasil não é diferente.
Portanto, o Estado é verdadeiramente laico desde que a religião não exerça o
papel de Estado, mas que tenha liberdade para exercer e promover uma cidadania
ativa. Qualquer proposta diferente desta é indício de uma tirania iminente.
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