Inaldo Barreto
Toda visita anunciada gera uma expectativa. No caso do Papa, espera-se
um pronunciamento sobre a fé, doutrina e disciplina. A expectativa da figura do
Papa como suposto representante de Cristo não parece ressoar na mente do povo,
mesmo do chamado “católico praticante”, formado por pessoas que vão à missa uma
vez por semana e cujo número é de 17% segundo as ultimas pesquisas. Um número
insignificante num país tão populoso.
I- Qual a
importância para o cristão?
Considerando cristãos tanto os católicos como os protestantes, a
importância da visita para os primeiros é um ato de fé. Mas trata-se também de
encorajamento da fé para um povo que tem uma crença difusa no universo
espiritual. A maioria dos espíritas e também dos seguidores de orixás se diz
católica, além dos muitos que vão à Igreja nem que seja para lavar as
escadarias da “Capela do Senhor do Bonfim”.
É importante para o Papa porque cumpre na sua consciência o dever de
manter, expandir e, no caso do Brasil, conter a evasão para outras igrejas
(denominações). A causa da evasão não e muito fácil de detectar. A Igreja
Católica é de certa forma tolerante. Não excomunga fiéis. Quando é dura na
disciplina, sempre é em relação a algum clérigo o qual ela ordena o silêncio,
como no caso do Leonardo Boff, que em silêncio produziu livros, como por
exemplo, Fundamentalismo - A Globalização e o Futuro da Humanidade.
Mas voltando ao assunto O Católico
e a Visita do Papa, nota-se por parte do povo um entusiasmo infantil. Não
se sabe bem o que o povo pensa em relação à visita do Papa e, por exemplo, da
presença de Cristo em cada um dos cristãos. Isso se dá pela pouca
instrução cristã, isto é, pouco discipulado cristão, pouco entendimento
das Escrituras, e até mesmo pouco conhecimento sobre o que se ouve na
celebração da Missa aos domingos. O católico segue, mas não sabe muito bem o
que segue: se é a Cristo ou uma Igreja que se diz Universal e de, certa forma,
a única e verdadeira Igreja. Aquela sem a qual ninguém poderá ser salvo “ex ecclesia nullas salvus”. Essa fé numa
Igreja que salva já é um espaço na mente do homem moderno para procurar o
sentido verdadeiro tanto da palavra ‘igreja’, como da salvação. Quando ele
encontra, tem início a evasão.
II- Igreja
A “Ecclesia” já é um objeto de estudo desde a reforma, até mesmo antes
dela. Ela se identificou primeiro como Igreja
de Jerusalém, depois avançou não como denominação como assim chamavam as Igrejas de Samaria e Galiléia, e depois
Igrejas espalhadas por todo o mundo conhecido. Com o advento das grandes
perseguições, surgem os chamados pais apostólicos - Patres aevi apostolici: Barnabé, Clemente de Roma, Inácio,
Policarpo e Hermas. Depois veio ainda Pápias, bispo de Hierápolis. Clemente foi
bispo de Roma. Orígenes e Eusébio identificam-no com a pessoa mencionada por
Paulo em Filipenses 4:6.
Inácio foi bispo de Antioquia. Policarpo foi bispo de Esmirna até metade
do primeiro seculo (157 d.C). Dos chamados Pais
apologistas, Quadrato apresentou uma apologia ao Imperador Adriano.
Aristides, um filósofo cristão de Atenas, escreveu sobre os costumes e a ética
dos cristãos. Justino, o Mártir, foi o mais famoso advogado dos cristãos.
Taciano, o Sírio, que foi discípulo de Justino, o Mártir, escreveu contra
a cultura grega em relação ao cristianismo mostrando que esse ultimo era muito
superior. Atenágoras defendeu os cristãos da acusação de ateísmo. Teófilo de Antioquia
foi o primeiro a se referir à Trindade. Além desses, temos Irineu e Hipólito de
Roma, Hermias, o filosófo, e Tertuliano que foi um grande apologista. Chegou a
se afastar da Igreja católica e se uniu ao movimento montanista, mas retornou
depois. Além de Cipriano que foi decapitado perto de Cartago em 14 de Setembro
de 258.
Orígenes não foi incluído como Pai da Igreja, embora para
muitos ele seja. Ele escreveu mais do que todos eles. Em seu tempo, era o mais
famoso Teólogo do Oriente. Segundo o historiador Eusébio, ele escreveu mais de
dois mil livros. Depois desse movimento, a Igreja foi avançando até se
tornar oficial com o Imperador Constantino. Mas o édito de tolerância foi de
Galério, no ano 311, pouco antes de sua morte. Constantino e Licinios decidiram
pela liberdade dos cristãos.
O Imperador Teodósio oficializa o cristianismo e todos se tornam
cristãos por decreto. A Igreja organizada termina por eleger um líder supremo e
começa assim o papado como temos até hoje.
A história dos papas é repleta de nuances de horror e algumas luzes e
bondades. Mas passou para o povo a ideia nefasta da arbitrariedade,
perseguições, fogueiras, etc. Com a Reforma Protestante, nasce o livre exame
das Escrituras que Calvino e Lutero não apreciavam tanto como se imagina. Mas
não teve como segurar e, assim, com o livre exame nasce as várias
interpretações. Isso foi a semente das várias denominações cristãs que temos em
nossos dias.
A Igreja, portanto, é uma somatória das denominações cristãs. Entre elas
temos aquelas que não têm a Igreja Católica como a Besta nem o Papa como o Anti-Cristo. Mas as denominações fundamentalistas afirmam “de pé juntos” e
quase juram que o Papa é a Besta e que eles são os eleitos. Um pequeno grupo
que se isola e se proclama como os “únicos salvos”.
A Igreja Católica fornece os elementos para a critica protestante.
O “povo” católico, aquele que não estuda a Bíblia e nunca foi discipulado,
enfim, aquele que ignora tudo a cerca da Bíblia e do Evangelho especialmente,
adota como pequenos “deuses” os santos que a própria igreja católica fornece
para devoção. Assim temos alguns santos que recebem nomes estranhos como
“Nossa Senhora Desatadora dos Nos” e, por estranho que pareça, essa santa foi
trazida para a Argentina pelo Cardeal Jorge Bergoglio, o atual papa
Francisco.
III- Os
motivos básicos da evasão.
Com toda a certeza, o Papa Francisco não irá fornecer subsídios
suficientes para conter a evasão de fiéis. Os motivos quase ocultos que levam
os fiéis para outras igrejas - “denominações” - são os conhecidos como os 7
pecados:
1 - Ditar normas de conduta
para as pessoas: Esse é um “mandamento” católico que
90% dos fiéis não fazem a menor conta. No mundo moderno, cada um comanda seu
próprio destino e para isso conta com livros de auto-ajuda, inclusive da
própria igreja;
2 - A Igreja “fast food”: Essa é uma heresia de origem protestante que entrou na Igreja Católica.
Os próprios cantores “pop” da Igreja apelam para uma solução imediata. Assim, as
pessoas vão à igreja para resolver um problema e logo se afastam. O povo
católico não é evangelizado até por medo de que isso seja uma porta de saída
para outras denominações. O próprio movimento carismático luta para contê-lo
com culto às imagens, culto somente a Jesus e a fidelidade à Igreja Católica.
3 - As mulheres não tem muito
espaço na Igreja Católica: O que força um contingente imenso de mulheres
migrando para as denominações protestantes;
4 - A pedofilia é um pecado que
destrói a fé católica: Nos EUA choveram denuncias e muitas arquidioceses
faliram. Na Irlanda, o crime da pedofilia foi considerado pela Anistia
Internacional como o maior crime contra os direitos humanos. O abuso
sexual contra crianças não pode ser tolerado de forma alguma. Por isso, se
espera do novo Papa um duro pronunciamento. Não adianta acalentar esperança de
que o povo vai esquecer de que seus filhos, crianças indefesas, foram
violentadas por padres pedófilos. Deve haver muitos por aqui. O problema só não
aparece porque o Brasil é o país da impunidade,
5 - Poucos lideres: Havia, no período da ditadura militar, Dom Helder Câmara. Hoje
precisamos de um lider que denuncie a pedofilia e leve os pedófilos aos
tribunais ainda que sem esperança de condenação pelo vicio da impunidade e outras
mazelas do Poder Judiciário;
6 - Comunicação: A televisão é usada por todos, inclusive pelos católicos, que a
usam bem. Mas mostram exatamente aquilo que termina por fazer o fiel pensar se
não tem algo errado. Cristo é Todo Poderoso, portanto, tem os atributos divinos.
Todavia, eles apresentam auxiliares para milagres e outras bênçãos. Com isso
diminuem Cristo por conta da crendice popular. O que termina por afastar
aqueles que pensam. Acertam em abrir a mente do fiel para a paróquia
eletrônica, mas não apresenta a solução do problema. A questão “fast food”
termina sendo um motivo para evasão.
7- A perda da identidade
social: A revista IstoÈ, que apontou esses 7 itens, concluiu: “Cada vez mais os
brasileiros, quando submetidos a censos, assumam que não seguem os dogmas
defendidos pela Santa Sé, e a Igreja Católica perdeu o status de produtor de
identidade social”, segundo Brenda Carranza da PUC.
A Igreja Católica imprimia na mente do povo a ideia de “ser católico”
como uma identidade, e tudo contribuía para isso. As festas de junho no nordeste,
que são populares, e até a invenção da Senhora Aparecida achada num rio, que
todos sabem que se trata de uma historia de pescador mentiroso.
São essas coisas medievais que insultam a inteligência do povo e provoca
evasão. Isso dificilmente o Papa irá explicar. Mesmo o grave crime da Pedofilia
não parece perto de uma solução. Vai ser “empurrado com a barriga”. Todos dirão
agora: “amém”. Mas, no longo prazo, descobrirão que tudo segue como sempre,
semelhante à política brasileira, que depois dos protestos propõe um plebiscito
e nada mais será feito.
Conclusão
A visita do Papa é interessante, mas representa muito mais uma festa
católica do que uma tomada de posição em relação ao verdadeiro Cristianismo
mediante o Evangelho sem mistura, sem apelos a santos protetores e sem uma
Igreja que deve tanta explicação à justiça. Agora mesmo, a ONU pede um
esclarecimento sobre a pedofilia e não se ouve uma resposta à altura. No
entanto, ainda é tempo de se ouvir um pronunciamento que demonstre o propósito
do Papa Francisco em reformar a Igreja Católica. Chegando ao Brasil com suas
palavras: “Não tenho ouro, nem prata, mas trago o que de mais precioso foi me
dado: Jesus Cristo.’”, disse ele ao lado de Dilma: “Para ter acesso ao povo
brasileiro, é preciso ingressar pela porta de seu imenso coração. Permitam-me
bater delicadamente nesta porta”. Elas são perfeitas para um Cristão. Mas a
Igreja Católica não tem essa cara. É preciso tirar uma nova foto.
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