domingo, 11 de agosto de 2013

Aprendendo "na prática"

Matheus Viana

A expressão “aprender na prática” é entoada como uma espécie de mantra desde a existência humana. E não é para menos, pois faz parte do processo de nosso desenvolvimento. O intrigante é que ela não ignora a importância da teoria. Por exemplo, meu pai aprendeu a fazer muitas coisas “na prática”, ou seja, mediante a observação de algumas ações realizadas por outro indivíduo. Mas esta observação é considerada teórica, pois, ainda que não foi a livros ou à prédica de alguém, foi algo passivo que se tornou algo prático.

Jesus certa vez disse: “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma se não ver fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente.” (Evangelho segundo João 5:19). Sim, Jesus fazia somente o que via o Pai fazer. Suas ações eram resultantes de observação. É neste mote que o apóstolo Paulo advertiu:“Sede meus imitadores como sou de Cristo Jesus.” (I Coríntios 11:1). Em outras palavras, olhem para as minhas ações e, assim como eu busco ser, sejam (Romanos 8:29), pensem (I Coríntios 2:16), sintam (Filipenses 2:5) e ajam como Jesus Cristo.

Esta observação elucidada por Jesus e por Paulo não é mera observação. Paradoxal? Claro que é. Explico. Jesus fez, além daquilo que viu seu Pai fazer, o que estava descrito na Lei e nos profetas. Conforme afirmou, Ele não veio para abolir a Lei de Moisés, mas para cumpri-la (Evangelho segundo Mateus 5:17). Toda sua obra foi o cumprimento do que Deus, através dos profetas, tinha dito ao povo. Não é em vão que, ao expirar na cruz, sentenciou: “Está consumado!” (Evangelho segundo João 19:30).

Entender este aparente paradoxo é crucial para a nossa fé e o desenvolvimento de nossa salvação (Filipenses 2:12). Certa vez, em uma aula no ensino médio, perguntei aos alunos se eles concordavam com a afirmação: a teologia é inimiga da fé. Apenas um não concordou e outro ficou indeciso. O restante concordou. Fiquei chocado.

Esta afirmação contraria o caráter do próprio Deus, pois Ele se revela através de Sua Palavra. Jesus, conforme Ele mesmo afirmou, se faz conhecer através das Escrituras (Evangelho segundo João 5:39). Ou seja, observar o que Jesus faz, a fim de O imitarmos, sem o conhecimento das Escrituras (teologia) é impossível. A fé torna-se inviável.

Você nutre fé em alguém que não conhece? Eu não. Seja sincero, você também não. Como podemos crer em Jesus se não O conhecemos, ou no mínimo ouvimos falar Dele? Quem afirma que a teologia é inimiga da fé, afirma que é possível ter fé em Jesus sem conhece-Lo por intermédio de ouvir ou ler acerca Dele. Além disso, Paulo elucida, em sua carta aos romanos, que a fé é dependente da teologia. Contrariado? Então leia: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. (Romanos 10:17). Ou seja, a fé vem pelo compartilhar da Palavra, seja ela oral ou visual. Em outras palavras, a fé vem pela teologia.

Afinal, o que é teologia? O significado é óbvio: Theos (Deus) – Logos (palavra/razão) = estudo sobre Deus. Mas Deus não é algo que pode ser estudado. Conforme preconizou Immanuel Kant, Deus e Seus atributos são incognoscíveis. No entanto, Jesus é a encarnação (Evangelho segundo João 1:12) e a imagem (Colossenses 1:15) de Deus para que Seu conhecimento seja possível a fim de crermos Nele. (Não deixe de ler o texto: Reducionismo proposital).

O próprio Jesus disse que O conheceremos ao examinarmos as Escrituras (graphás) (Evangelho segundo João 5:39). É exatamente este exame que recebe o nome de teologia. Há quem diga que teologia é o conjunto de matérias que consideram apenas o exercício da razão. Isso não é teologia, é ciência da religião.

O apóstolo Paulo diz que é o Espírito de Deus quem nos revela o conhecimento de Deus (I Coríntios 2:11). Mas esta revelação é mediante a Palavra. Observe o ensinamento de Jesus: “Mas o consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ajudará, vos ensinará, e vos fará lembrar de tudo o que tenho dito”. (Evangelho segundo João 14:26).

A revelação do Espírito Santo é determinada pelos ensinamentos de Jesus registrados pelos apóstolos e demais escribas, como por exemplo, João Marcos, autor do Evangelho segundo Marcos, e Lucas, autor do Evangelho segundo Lucas e do livro de Atos. Em suma, na medida em que conhecemos a Jesus através da revelação que o Espírito Santo de Deus nos concede mediante Sua Palavra (ensinos, doutrinas e decretos = teologia), nossa fé se desenvolve. 

Sendo assim, aprendermos na prática a viver conforme Deus deseja que vivamos quando observarmos as Escrituras que testificam de Cristo. Exercermos a teologia e termos a nossa fé renovada a cada dia até atingirmos, conforme o apóstolo Paulo preconiza, a estatura do varão perfeito: Jesus Cristo (Efésios 4:13).

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